quarta-feira, 23 de novembro de 2011

É "impressionanta"!


Segundo a coluna Radar, de Lauro Jardim (revista Veja), a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) analisa um projeto de lei que visa tornar obrigatório o uso da flexão de gênero para nomear profissão e grau de diploma. Caso seja aprovado, termos como "presidenta", "gerenta" e "bacharela" deixarão de ser uma horrenda forçação de barra, sendo elevadas ao status de denominação oficial para funções exercidas por mulheres.

Acho estranha esta proposta da ex-senadora Serys Slhessarenko. Por que Dilma não pode ser chamada de presidente (sendo opcional o "presidenta")? Por acaso, alguém vai se esquecer de que ela é uma mulher, se a chamar de presidente Dilma?

Gostaria de ver como isso se refletiria em uma sala de aula. Já pensou? O professor, para fazer com que os alunos fixem melhor o conteúdo de sua aula, resolve pedir que os meninos leiam um trecho do texto, e as meninas, outro.

"_  ... e agora, só as estudantas!
 _  Ei, quem o senhor está chamando de anta?
 _ Só estou cumprindo a lei, mocinha."




 

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Ao pé da letra



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Estou lendo um livro chamado "Um Ano Bíblico", do jornalista e editor da revista Esquire, A.J. Jacobs, que tornou-se um best-seller. Jacobs resolveu, baseado na experiência de um tio considerado por sua família um homem excêntrico, que viveria um ano exatamente como manda a Bíblia. "Até aí, sem problemas", você pode pensar. "Quantos crentes não fazem o mesmo?" A diferença é que Jacobs - que se declara agnóstico - decidiu não fazer concessões, não ser seletivo ao cumprir os mandamentos bíblicos. Assim, teve que parar de fazer a barba, usar roupas que não contivessem mistura de fibras, levar um banquinho para todos os lugares (para não acabar sentando em um lugar onde uma mulher menstruada houvesse sentado), e até pastorear ovelhas.


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Ainda não estou nem na metade do livro (o autor está no octagésimo dia de sua missão), mas já dá para perceber que as principais dificuldades não estão nessas tarefas mais desconcertantes. Apesar de algumas delas serem hoje consideradas socialmente reprováveis, ou até criminosas (a Bíblia ordena, em alguns de seus versículos, que se sacrifique bois e cordeiros), o que é particularmente difícil de cumprir são as pequenas mudanças de comportamento. Não falar mal dos outros, não fazer imagens, repreender as crianças com uma vara de marmelo - Jacobs tem um filho de dois anos, mais ou menos, e não consegue levantar a mão para ele sem se sentir um tirano -, guardar os sábados (o que significa não fazer absolutamente nada que seja considerado esforço), fazer orações diariamente (imagine o quanto isso é difícil para alguém que não acredita em Deus), entre outras coisas.

Perguntado por seu avô sobre quais regras eram as mais absurdas, Jacobs respondeu que a pior que havia lido até então era um mandamento do Levítico, livro do Antigo Testamento quase inteiramente formado de regras, que dizia que se um homem se metesse numa briga com outro, e sua esposa de intrometesse e, inadvertidamente, tocasse as partes íntimas do outro homem (?), ele deveria cortar-lhe a mão sem demonstrar por ela piedade. Este é apenas um dos muitos pontos (como no caso da mistura de fibras da roupa) em que a Bíblia é estranhamente específica, e não dá qualquer explicação para exigir tais coisas.


Um dos objetivos de Jacobs é mostrar o quanto o legalismo leva ao que ele chama de "idiotice correta", ou seja, que tem gente que se concentra mais em seguir regras do que em fazer as coisas certas. Com o tempo, ele passa a realmente buscar uma elevação moral, mas isso é consequência de sua dedicação. Seu livro acaba mostrando, também, que as pessoas que dizem seguir o livro cristão e vivem com o dedo apontado para a cara dos outros, vomitando julgamentos, seguem apenas o que lhes convêm, dentro da imensa lista de ordens espalhadas pela Bíblia. É um pouco cômodo, não é? Lendo este livro, lembrei dos discursos de líderes cristãos (independente da Igreja que seguem), e vi o quanto eles usam as palavras bíblicas de maneiras diferentes, sempre convenientes ao seu modo de pensar.

É impossivel, para mim, não analisar as incoerências. Exemplo: Paulo, em um de seus livros, diz que os homens devem manter os cabelos sempre curtos. Por quê? Porque sim. Não há explicações. Mas aí, lembro-me da figura clássica de Jesus (é óbvio que se trata da imagem formulada por europeus durante o Renascimento, mas em todo caso, é muito parecida com as formas encontradas no Santo Sudário), na qual ele é retratado com cabelos compridos. E a Bíblia está cheia de regras sem sentido e contraditórias, o que leva a uma conclusão: ela foi escrita por pessoas que viveram em diferentes épocas, e de diferentes comunidades. Na época de Paulo - que viveu depois da morte de Jesus - provavelmente os cabelos compridos fossem coisa de homens afeminados, comportamento reprovado pela Bíblia. Daí a ordem para que se cortasse os cabelos.

[Sobre o homossexualismo, inclusive, vale lembrar que sua primeira menção, condenatória, aparece no episódio da adoração ao bezerro de ouro, quando Moisés está no alto do Monte Sinai para receber os Dez Mandamentos. Em uma passagem, é dito que as pessoas se relacionavam até com outros do mesmo sexo, e isso é mostrado como um absurdo. Já Levítico 18,22 (Versão Nova Internacional), diz: Não se deite com um homem como quem se deita com uma mulher: é repugnante”. Ou seja, é claramente a visão de mundo praticada pelos hebreus na época em que o texto foi escrito. Os autores não aprovavam a união entre pessoas do mesmo sexo, e colocaram isso na Bíblia, pois assim, sua opinião seria inquestionável. Ou alguém realmente acha que Deus, que nos conferiu o livre-arbítrio, perderia Seu tempo com isso?]

Continuarei a escrever sobre "Um Ano Bíblico" nos próximos posts. É um livro muito bem-humorado, que trata de forma original sobre um assunto curioso e interessante.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

26 anos de Calvin e Haroldo

Nenhum filme de ficção científica consegue ser tão criativo quanto a imaginação de uma criança. Partindo desta premissa, Bill Watterson criou, em 1985, as tirinhas de um garoto de 6 anos que tem como melhor amigo um tigre de pelúcia, que "ganha vida" quando não há adultos por perto. 

Calvin, o menino, e Haroldo, o tigre, conversam muito sobre vários temas, que vão da política ao dever de casa, com a mesma seriedade. O grande trunfo de Watterson foi colocar nas tirinhas ideias que parecem mesmo ter saído da cabeça de uma criança.


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Originalmente, a tira chama-se "Calvin and Hobbes", sendo o primeiro uma homenagem ao fundador do Calvinismo, e o segundo, a Thomas Hobbes, filósofo inglês que formulou a máxima "O homem é lobo do próprio homem". Ou seja, desde sua gênese, a criação do ex-publicitário destinava-se a explorar conceitos mais complexos que o cotidiano infantil.

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Para marcar o aniversário de 26 anos de Calvin & Haroldo, a editora Conrad lança o livro "Os dias estão todos ocupados", que já havia sido publicado anteriormente pela Best News sob o título "Os dias estão simplesmente lotados".





terça-feira, 8 de novembro de 2011

Os fascistinhas idiotas

Não sou contra reivindicações estudantis. Quando estava na faculdade, cursando jornalismo, eu inclusive fiz parte de um grupo de alunos que produziu um jornalzinho, intitulado "A Pedrada", cujo objetivo era colocar em evidência os pontos fracos da instituição (e, verdade seja dita, extravasar nosso desejo de publicar alguma coisa). Reclamávamos da demora absurda no atendimento da secretaria, da falta de investimentos em informática, entre outros assuntos. Alguns de nossos textos surtiram efeito, outros não. Mas a questão é que não foi preciso fazer nada além de escrever e conversar.

A introdução serve apenas de parâmetro para uma análise do episódio ocorrido na USP, quando um bando de estudantes invadiu o campus da universidade e, encapuzados, maltrataram funcionários e qualquer um que não compactuasse com a baderna. Os manifestantes alegam estar lutando por seus direitos (consta que um trio foi visto fumando maconha dentro de um carro no estacionamento, foi repreendido, houve tumulto, a polícia militar foi acionada, e começou a confusão), mas direito a quê? A fazer o que quiserem, sem medir consequências? Ninguém, seja estudante ou não, tem este direito.


Durante os protestos, muitos estudantes exibiram livros de Marx, Gramsci e outros autores muito respeitados da sociologia - mais pelos simpatizantes da 'esquerda' que da 'direita'* - como se fossem escudos contra a "repressão fascista" da polícia. Sim, usaram esta terminologia errada e clichê. Aposto os dedos destas mãos como só um ou outro ali no meio leu aqueles livros. Afinal, isso dá tanto trabalho quanto estudar, e eles não estão na USP, a maior instituição de ensino superior do país, para estudar. Querem apenas fumar maconha em paz, deitados na grama, usando seus i-phones ganhos no Dia da Criança e fingindo que discutem questões filosóficas profundas. (E que fique claro: respondem por míseros 0,1% do número de alunos da universidade).


Depois de um enfrentamento bem covarde com a polícia, no qual os invasores agrediam policiais com cavaletes, pedaços de madeira e o que houvesse à disposição (material da USP, pago por impostos, assim como o prédio da instituição, que é pública), enquanto a PM só se defendia, 73 alunos foram presos nesta terça por desobediência, dano ao patrimônio público e crime ambiental. Só sairão sob fiança, estipulada em torno de mil reais.



                               Reparem em como escreveram "trabalhadores". Precisam
                                         estudar mais, e protestar menos...

Talvez a influência da politicagem na sala de aula tenha mexido com os miolos dessa gente tanto quanto as toxinas da maconha. Não é raro ver um professor incitar alunos a ir contra o "sistema", exaltar partidos ditos "de esquerda"*, colocar nas entrelinhas de seu discurso críticas a este ou aquele veículo de comunicação (os eternos vilões, para os que desprezam a liberdade de expressão). Pois é, eis aí um exemplo de resultado: jovens idiotas, que pensam que conseguirão o que quiserem invadindo, depredando e distribuindo ordens. Coisa de fascista.


* Não acredito na divisão "esquerda/direita", mas fica mais fácil para explicar. Hoje, o que temos são partidos guiados por interesses de grupos opostos. A ideologia passa longe da política.