terça-feira, 13 de março de 2012

Morre Moebius

Moebius

Faleceu ontem o quadrinhista e ilustrador Jean Giraud, mais conhecido por seu pseudônimo, Moebius. A causa provável, ainda não confirmada, é câncer. Seu prmeiro grande sucesso nos quadrinhos foi o western Blueberry, em 1963, que criou junto a Jean Michel Charlier.  

Blueberry

Moebius ficou afastado dos quadrinhos por uma década, retornnado em 1975 com o título Métal Hurlant (a famosa Heavy Metal, que já teve versão brasileira), dedicada à ficção científica e ao fantástico, que se tornaram a especialidade do artista. Foi nesta revista que surgiram Arzach  e A Garagem Hermética, duas de suas maiores criações. Nesta época, trabalhou também com o cinema, sendo o responsável pela arte conceitual de produções como Tron, Alien, Willow. Na década de 1990, trabalhou mais como roteirista de Garagem Hermética e Blueberry. Na década seguinte, criou uma produtora, a Moebius Productions, com histórias de Arzach e do Major Grubert, o mais assíduo da Garagem.

O Major Grubert, de
Garagem Hermética

Jean Giraud foi homenageado diversas vezes por sua contribuição à arte, ganhou documentários sobre sua vida e exposições sobre sua carreira. A última aconteceu no final de 2010, na Fundação Cartier, em Paris.

Arzach, onde as palavras tinham
menos espaço que as imagens


Arte conceitual de Tron

Arte conceitual de Willow


Arte conceitual de Alien, com o artista Giger

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Dor de cotovelo: a gente vê por aí

Carlos Nascimento, apresentador do Jornal do SBT, protagonizou na semana passada uma cena curiosa. O jornalista, que já foi da Globo, fez um comentário sobre o sucesso do meme sobre Luiza (a que voltou do Canadá, e apareceu no Jornal Hoje) e o suposto estupro no Big Brother Brasil. Eis o que ele disse:

clique para ampliar

Será que é o teor dos assuntos que incomoda Nascimento, ou o fato de que nenhum dos dois aborda seu programa, o SBT ou sua pessoa, que perdeu muito do reconhecimento de que já gozou ao deixar a emissora líder?
O jornalista já foi apresentador do Jornal da Globo, e naquela época era tido como páreo para William Bonner. Hoje, raramente é citado, quando se fala em apresentadores de telejornais.
Além disso, vejamos o que ele falou sobre já termos sido mais inteligentes. Se ele diz isso por causa do Big Brother, cabe uma análise da programação dos demais canais de tv; o que dizer da qualidade do Programa do Ratinho, por exemplo, anunciado todos os dias por Nascimento? Seu último grande pico de audiência foi a apresentação ao vivo do garotinho que cantava "O Pintinho Piu", com direito a funcionários de Ratinho fantasiados de animais para acompanhá-lo. E de onde veio o menino? Da Internet! O mesmo espaço onde Luiza foi consagrada. Mas ela não apareceu no SBT, certo? A Globo a mostrou antes, então, deve ser criticada. Como ex-funcionário, Nascimento parece se sentir obrigado a falar mal da emissora.
E qual programa do SBT ou de outro canal hoje faz frente ao BBB? Deve ser difícil conviver com isso, ainda mais sabendo que o programa não prioriza a qualidade do conteúdo. Ser pior que o Bial não é coisa que se exiba como um troféu.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

E o planejamento foi por água abaixo

Foto: Valter Campanato/ABr

O ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra (PSB), disse ontem em seu discurso que Pernambuco está sofrendo discriminação por ser seu estado de origem. Ele não entendeu que não é só isso que coloca a terra de onde saiu o ex-presidente Lula nos noticiários; o que chama a atenção é o altíssimo valor dos repasses para prevenção de desastres ao Estado (R$ 25 milhões) em 2011, enquanto Minas Gerais não dispõe de recursos para se recuperar, após o alagamento que deixou várias cidades debaixo d'água. Outro estado que não consta da lista de repasses federais é, pasmem, o Rio de Janeiro, mesmo após as sucessivas chuvas e enchentes que devastaram municípios como Nova Friburgo.

O segundo colocado nesta lista é o Paraná, que teve duas cidades vítimas de problemas semelhantes no ano passado (Morretes e Antonina), a frente de lugares famosos por passar dificuldades desta natureza, como São Paulo. E, mesmo assim, o valor repassado foi 14 vezes menor que o recebido por Pernambuco, cerca de R$ 1,8 milhões. Não há como justificar tamanha diferença.

Isso mostra como as coisas funcionam nos ministérios do governo Dilma. Tudo leva  a crer que não existe planejamento para coisa alguma, que as decisões são tomadas por impulso. Quando o certo seria repassar mais verbas aos estados que enfrentam continuamente desastres naturais, o Ministério da Integração toma a decisão de beneficiar estados que uma ou outra vez foram afetados (no caso de 2011, Pernambuco, Espírito Santo e Paraná). Mas como deixaram de fora o Rio de Janeiro, que também foi bastante prejudicado no ano passado? E São Paulo? Não existe explicação cabível para este disparate, a não ser a óbvia falta de estudo e estratégia.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Não compre o livro pela capa

O novo candidato a queda no governo Dilma é o ministro do desenvolvimento, Fernando Pimentel. O motivo: ele recebeu de maneira indevida uma bela soma, e agora, diz que o dinheiro é fruto de consultorias prestadas no período em que não exerceu a política. Pimentel é também apontado como o coordenador do dossiê contra José Serra, nas eleições de 2010. Mas para isso a tchurma do governo tem uma explicação: o que ele fez seria lobby (lobista era aquela figura que ficava no lobby do Congresso tentando influenciar parlamentares sobre suas ideias), o que é legal. Mas Pimentel recebia seus clientes em seu gabinete. Ora, mas ele não disse que só "prestou consultoria" enquanto estava afastado da política? Pois é. Mais uma vez, o tal do "malfeito" dá as caras.

Sobre essas explicações que não explicam coisa alguma: está se fazendo um alvoroço danado por conta do livro de Amaury Ribeiro Jr., intitulado "A privataria tucana". O livro é, realmente, um sucesso de vendas. Segundo consta, esgotou-se nas livrarias três dias após o lançamento. O texto fala da onda de privatizações realizadas durante o governo de FHC, e já virou livro de cabeceira dos que adoram ter assunto para dizer que Lula salvou o Brasil. Detalhe: na parte final do livro, Amaury denuncia a ação de Pimentel, assessorado por arapongas, para prejudicar o candidato Serra. Isso, a propaganda petista não divulga.

É verdade que erros foram cometidos antes de 2002. Mas também é verdade que não só esses erros continuaram, como outros surgiram após a eleição de Lula. Ora, se o PT era contra a privatização de empresas brasileiras, por que não lutou para reavê-las? E por que não parou de privatizar em seu governo? Os impostos diminuíram? Não, só aumentam a cada dia. A corrupção diminuiu? Pelo contrário. Se antes havia os anões do orçamento, hoje temos o Mensalão, o escândalo da Casa Civil, o escândalo dos Ministérios (difícil lembrar de um que não tenha se metido em falcatruas), e todo dia aparece mais algum podre.

Caso Pimentel seja demitido, será o oitavo ministro a deixar o governo por corrupção. Oito ministros em menos de um ano de governo. E ainda querem que acreditemos que antes era pior.

O PT, durante seu governo, jogou no lixo não apenas a ética, como disse o ex-senador Flávio Arns (que trocou o partido governista pelo PSDB), mas também várias de suas bandeiras, como a oposição às privatizações, à corrupção, às alianças oportunistas (não é mesmo, Collor e Sarney?), e várias outras. Agora que os "malfeitos" do partido e de alliados estão aparecendo, o governo tenta distorcer a verdade, justificar o injustificável e jogar a batata quente nas mãos dos governos anteriores.


                                               Charge: Nani

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

É "impressionanta"!


Segundo a coluna Radar, de Lauro Jardim (revista Veja), a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) analisa um projeto de lei que visa tornar obrigatório o uso da flexão de gênero para nomear profissão e grau de diploma. Caso seja aprovado, termos como "presidenta", "gerenta" e "bacharela" deixarão de ser uma horrenda forçação de barra, sendo elevadas ao status de denominação oficial para funções exercidas por mulheres.

Acho estranha esta proposta da ex-senadora Serys Slhessarenko. Por que Dilma não pode ser chamada de presidente (sendo opcional o "presidenta")? Por acaso, alguém vai se esquecer de que ela é uma mulher, se a chamar de presidente Dilma?

Gostaria de ver como isso se refletiria em uma sala de aula. Já pensou? O professor, para fazer com que os alunos fixem melhor o conteúdo de sua aula, resolve pedir que os meninos leiam um trecho do texto, e as meninas, outro.

"_  ... e agora, só as estudantas!
 _  Ei, quem o senhor está chamando de anta?
 _ Só estou cumprindo a lei, mocinha."




 

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Ao pé da letra



Clique na imagem para ampliar

Estou lendo um livro chamado "Um Ano Bíblico", do jornalista e editor da revista Esquire, A.J. Jacobs, que tornou-se um best-seller. Jacobs resolveu, baseado na experiência de um tio considerado por sua família um homem excêntrico, que viveria um ano exatamente como manda a Bíblia. "Até aí, sem problemas", você pode pensar. "Quantos crentes não fazem o mesmo?" A diferença é que Jacobs - que se declara agnóstico - decidiu não fazer concessões, não ser seletivo ao cumprir os mandamentos bíblicos. Assim, teve que parar de fazer a barba, usar roupas que não contivessem mistura de fibras, levar um banquinho para todos os lugares (para não acabar sentando em um lugar onde uma mulher menstruada houvesse sentado), e até pastorear ovelhas.


Clique na imagem para ampliar

Ainda não estou nem na metade do livro (o autor está no octagésimo dia de sua missão), mas já dá para perceber que as principais dificuldades não estão nessas tarefas mais desconcertantes. Apesar de algumas delas serem hoje consideradas socialmente reprováveis, ou até criminosas (a Bíblia ordena, em alguns de seus versículos, que se sacrifique bois e cordeiros), o que é particularmente difícil de cumprir são as pequenas mudanças de comportamento. Não falar mal dos outros, não fazer imagens, repreender as crianças com uma vara de marmelo - Jacobs tem um filho de dois anos, mais ou menos, e não consegue levantar a mão para ele sem se sentir um tirano -, guardar os sábados (o que significa não fazer absolutamente nada que seja considerado esforço), fazer orações diariamente (imagine o quanto isso é difícil para alguém que não acredita em Deus), entre outras coisas.

Perguntado por seu avô sobre quais regras eram as mais absurdas, Jacobs respondeu que a pior que havia lido até então era um mandamento do Levítico, livro do Antigo Testamento quase inteiramente formado de regras, que dizia que se um homem se metesse numa briga com outro, e sua esposa de intrometesse e, inadvertidamente, tocasse as partes íntimas do outro homem (?), ele deveria cortar-lhe a mão sem demonstrar por ela piedade. Este é apenas um dos muitos pontos (como no caso da mistura de fibras da roupa) em que a Bíblia é estranhamente específica, e não dá qualquer explicação para exigir tais coisas.


Um dos objetivos de Jacobs é mostrar o quanto o legalismo leva ao que ele chama de "idiotice correta", ou seja, que tem gente que se concentra mais em seguir regras do que em fazer as coisas certas. Com o tempo, ele passa a realmente buscar uma elevação moral, mas isso é consequência de sua dedicação. Seu livro acaba mostrando, também, que as pessoas que dizem seguir o livro cristão e vivem com o dedo apontado para a cara dos outros, vomitando julgamentos, seguem apenas o que lhes convêm, dentro da imensa lista de ordens espalhadas pela Bíblia. É um pouco cômodo, não é? Lendo este livro, lembrei dos discursos de líderes cristãos (independente da Igreja que seguem), e vi o quanto eles usam as palavras bíblicas de maneiras diferentes, sempre convenientes ao seu modo de pensar.

É impossivel, para mim, não analisar as incoerências. Exemplo: Paulo, em um de seus livros, diz que os homens devem manter os cabelos sempre curtos. Por quê? Porque sim. Não há explicações. Mas aí, lembro-me da figura clássica de Jesus (é óbvio que se trata da imagem formulada por europeus durante o Renascimento, mas em todo caso, é muito parecida com as formas encontradas no Santo Sudário), na qual ele é retratado com cabelos compridos. E a Bíblia está cheia de regras sem sentido e contraditórias, o que leva a uma conclusão: ela foi escrita por pessoas que viveram em diferentes épocas, e de diferentes comunidades. Na época de Paulo - que viveu depois da morte de Jesus - provavelmente os cabelos compridos fossem coisa de homens afeminados, comportamento reprovado pela Bíblia. Daí a ordem para que se cortasse os cabelos.

[Sobre o homossexualismo, inclusive, vale lembrar que sua primeira menção, condenatória, aparece no episódio da adoração ao bezerro de ouro, quando Moisés está no alto do Monte Sinai para receber os Dez Mandamentos. Em uma passagem, é dito que as pessoas se relacionavam até com outros do mesmo sexo, e isso é mostrado como um absurdo. Já Levítico 18,22 (Versão Nova Internacional), diz: Não se deite com um homem como quem se deita com uma mulher: é repugnante”. Ou seja, é claramente a visão de mundo praticada pelos hebreus na época em que o texto foi escrito. Os autores não aprovavam a união entre pessoas do mesmo sexo, e colocaram isso na Bíblia, pois assim, sua opinião seria inquestionável. Ou alguém realmente acha que Deus, que nos conferiu o livre-arbítrio, perderia Seu tempo com isso?]

Continuarei a escrever sobre "Um Ano Bíblico" nos próximos posts. É um livro muito bem-humorado, que trata de forma original sobre um assunto curioso e interessante.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

26 anos de Calvin e Haroldo

Nenhum filme de ficção científica consegue ser tão criativo quanto a imaginação de uma criança. Partindo desta premissa, Bill Watterson criou, em 1985, as tirinhas de um garoto de 6 anos que tem como melhor amigo um tigre de pelúcia, que "ganha vida" quando não há adultos por perto. 

Calvin, o menino, e Haroldo, o tigre, conversam muito sobre vários temas, que vão da política ao dever de casa, com a mesma seriedade. O grande trunfo de Watterson foi colocar nas tirinhas ideias que parecem mesmo ter saído da cabeça de uma criança.


Clique para ampliar

Originalmente, a tira chama-se "Calvin and Hobbes", sendo o primeiro uma homenagem ao fundador do Calvinismo, e o segundo, a Thomas Hobbes, filósofo inglês que formulou a máxima "O homem é lobo do próprio homem". Ou seja, desde sua gênese, a criação do ex-publicitário destinava-se a explorar conceitos mais complexos que o cotidiano infantil.

Clique para ampliar

Para marcar o aniversário de 26 anos de Calvin & Haroldo, a editora Conrad lança o livro "Os dias estão todos ocupados", que já havia sido publicado anteriormente pela Best News sob o título "Os dias estão simplesmente lotados".