quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Limpando a casa (ou "Contra fatos...")


                                                         Foto: Valter Campanato/ABr

A pauta do setor de política de dez em cada dez jornais brasileiros hoje trata da quase certa demissão do ministro dos esportes, Orlando Silva, por conta da "pressão" das acusações de corrupção feitas contra ele. A frase do ministro, da coletiva concedida logo após a divulgação da reportagem da revista Veja, soa muito bem: "Um bandido me acusa, e eu que preciso me explicar". Sim, é bonita a sentença. Parece coisa de pessoa muito honesta, vítima de uma armação difamatória. Pena que as provas apresentadas pelo policial militar João Dias (preso no ano passado por participar do esquema de desvio de verbas do programa Segundo Tempo) sejam tão contundentes, não é, ministro?

Tem gente (os mesmos de sempre, que acusam a revista de conspirar contra tudo o que há de bom no universo) que já chama a Veja de "caluniadora", "mentirosa", o escambau. Eles simplesmente ignoram as provas em que se baseia a reportagem! Mas isso já é sintomático, no governo petista: quem está no poder nunca precisa provar nada, já reparou? Só os outros têm esta obrigação. E, mesmo quando o fazem, são desacreditados pela mídia militante, que mais parece um amontoado de assessores de imprensa do governo, e não jornalistas.

Com Orlando Silva, já são seis ministros demitidos desde o início do governo Dilma, que ainda não completou um ano. Ou seja, mais da metade dos nomeados pela presidente para chefiar as principais pastas do governo (dez, ao todo). Se a "imprensa golpista" é a única culpada por esta verdadeira limpeza ética, das duas uma: ou ela é muito eficiente - e então, merece aplausos -, ou Dilma é muito fraca, pois não consegue fazer valer suas convicções diante das "mentiras" publicadas. Fico com a primeira opção.

O que acontece, na verdade, é que os corruptos estão sendo desmascarados um a um, e não têm o que apresentar em sua defesa. Bom para o Brasil, que aos poucos se livra de um bando de sanguessugas do dinheiro público.

  

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Sem apelação

                                         Valter Campanato/ABr

O caso Orlando Silva (sobre o suposto recebimento de propina pelo ministro dos esportes) está se tornando mais um assunto a embasar a teoria da conspiração racial no Brasil. Já tem gente atribuindo à cor da pele do ministro o motivo da acusação feita pelo policial militar e ex-militante do PCdoB, João Dias Ferreira. Não sou racista, e defendo o tratamento igualitário às pessoas, independente de origem, credo ou o que quer que seja. E este "igualitário" engloba a exigência do respeito às leis, e em caso de cometimento de ilícito, a aplicação de sansões ao autor.

Para bem analisar a questão, basta dizer que os outros cinco ministros demitidos por Dilma são brancos. Esta simples e lógica observação faz desmoronar o argumento apelativo de quem acusa de racismo os denunciantes.

O problema não é a cor da pele do ministro Orlando Silva, mas sua conduta, incompatível com suas atribuições.

sábado, 15 de outubro de 2011

CUIDADO: Com esta gente não se brinca!


                                            Foto: divulgação

Nesta semana, fomos informados da demissão do humorista Rafinha Bastos pela Band, por conta da piada que fez com a "cantora" Wanessa. O pedido partiu do próprio humorista, que não concorda com a censura imposta pela emissora, após a decisão de afastá-lo por tempo indeterminado. E quer saber? Rafinha está certo. Por mais pesada que sua fala possa parecer, a punição não se deve a isso; a razão que levou a Band a cortá-lo de sua programação é que o marido de Wanessa, Marcus Buaiz, é um "empresário" influente (leia-se filho de empresário influente, o dono da Rede Vitória, Américo Buaiz Filho).

E a Rede Vitória é o quê, mesmo? Ah, sim. É afiliada da Rede Record no Espírito Santo. Como se não bastasse a influência (leia-se conta bancária) dos Buaiz, pesam também as companhias de Marcus, como o ex-jogador Ronaldo e o ex-colega de CQC de Rafinha, Marco Luque. O Fenômeno, que é sócio de Buaiz, disse que tiraria anunciantes do programa. Luque (cujo programa solo, "O Formigueiro", foi um fracasso de audiência), publicou até uma nota de repúdio à atitude de Rafinha, dizendo-se ofendido "enquanto pai". (Obs.: Rafinha Bastos também é pai.)

Percebe, amigo leitor? O problema não foi exatamente a piada, mas o alvo da mesma. Se Rafinha tivesse feito a mesma brincadeira com pessoas sem muita influência, isso ficaria apenas entre o humorista e os personagens da galhofa. Como é gente com amigos poderosos, especialmente seus papais, a coisa muda de figura. Não parece coisa de regime ditatorial africano?


Ainda bem que a produtora do CQC, a argentina Cuatro Cabezas, não concorda com a postura da Band, e ameaça até tirar o programa da emissora. Atitude coerente com o que o Custe o Que Custar representa, seja no Brasil ou na terra de Gardel: o humor escrachado como instrumento de crítica (ou só como humor mesmo).

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Ponto para o bom senso



Você leu aqui que a ministra da Secretaria das Mulheres, Iriny Lopes, enviou uma representação ao Conar contra a campanha publicitária da Giovanni+Draftfcb para a Hope, na qual a modelo Gisele Bündchen aparece de calcinha e sutiã, sugerindo que a mulher brasileira pode usar sua sensualidade para conseguir o que deseja dos homens.

Pois hoje, o órgão que autoregula a publicidade no país arquivou a representação, sob a alegação de que "os estereótipos presentes na campanha são comuns à sociedade e facilmente identificados por ela, não desmerecendo a condição feminina".

Parabéns ao Conar, que demonstra bom senso ao decidir sobre algo tão absurdo. Como eu já disse antes, acho que a indignação da ministra e dos cerca de 40 consumidores que denunciaram a propaganda não se deve à "afronta à dignidade da mulher", mas à boa e velha dor de cotovelo. Afinal, algum deles reclamou quando a mesma Gisele apareceu de avental, na propaganda da Sky, enquanto o maridão assiste à televisão? Não, né?

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

"Espelho, espelho meu..."

        A ministra Iriny Lopes, chefe da Secretaria da Mulher no governo Dilma, formulou um representação contra a propaganda da empresa de lingeries Hope, na qual Gisele Bündchen aparece de calcinha e sutiã para, nas palavras da ministra,  "amenizar possíveis reações de seus companheiros frente a incidentes do cotidiano". Ou seja, a campanha apenas coloca em imagens aquilo com que homens e mulheres brincam em conversas com amigos: o fato de uma mulher conseguir tudo o que deseja por meio de sua sensualidade.
       Ainda segundo Iriny, a peça publicitária “promove o reforço do estereótipo equivocado da mulher como mero objeto sexual de seu marido e ignora os grandes avanços que temos alcançado para descontruir práticas e pensamentos sexistas" (sic). Me desculpe a ministra, mas acho que o Brasil já evoluiu bastante em termos de relações sociais para se deixar levar por uma simples propaganda de lingerie, cujo objetivo evidente é valorizar sua marca. Ou será que uma empresa que produz peças de roupa íntima femininas teria por meta inferiorizar justamente seu público consumidor, as mulheres?
        A sensação que me passa este tipo de reação é a de que a ministra está querendo aparecer. O assunto não é tão sério para que tome o tempo do pessoal do Conar (Conselho Nacional de Autoregulação Publicitária), órgão que irá julgar o caso, com base na representação de Iriny Lopes.
        Até a atriz e pop star Luana Piovani atacou o comercial, via Twitter, alegando a ofensa à dignidade da mulher. Ora, que curioso; para mim, a propaganda da Hope "ofende" tanto quanto a personagem de Luana no filme e série "A Mulher Invisível", nos quais interpreta a imaginária Amanda, um delírio que anda sempre em trajes mínimos, criado pela mente de Pedro (Selton Mello). Ela, sim, serve apenas aos propósitos masculinos mais primitivos, por assim dizer. Se Luana é contra a propaganda da Hope, por que aceitou o papel de Amanda? Novamente, parece oportunismo. Ela precisa ter uma opinião sobre tudo, certo? Senão, correria o risco de a esquecermos, e isso ela não suportaria.
         Para sua apreciação, seguem o comercial da Hope e também uma foto da ministra Iriny Lopes, que evidencia, a meu ver, o real motivo de sua indignação.





                                                          
Fonte: Correio do Estado - http://www.correiodoestado.com.br/noticias/conar-julgara-o-caso-gisele-bundchen-nesta-quinta_127833/

A peça publicitária "Hope ensina" foi desenvolvida pela agência Giovanni+Draftfcb.             

sábado, 8 de outubro de 2011

Che, por Ernesto Guevara

          Olá! Seja bem vindo a meu novo blog, onde tratarei de qualquer coisa que me venha à mente: política, religião, cultura e até inutilidades. Para início de conversa, aproveitando o aniversário da morte de Che Guevara, segue um texto que escrevi em 2009, quando do lançamento do filme sobre o revolucionário.

                       


            O ator Rodrigo Santoro, que interpreta o atual presidente cubano Raúl Castro no filme Che, o argentino, de Steven Soderbergh, tem acompanhado a performance do longa ao redor do mundo, e se diz satisfeito com o resultado. O brasileiro diz que, assim que conseguiu o papel (após muita insistência durante os testes de elenco), estudou espanhol por cerca de um mês, e em seguida, foi a Cuba, onde passou mais um mês conhecendo a ilha, a cultura, as pessoas que conheceram o revolucionário Ernesto Guevara.

            O porto-riquenho Benicio Del Toro, que interpreta com propriedade o papel-título, é um dos idealizadores do projeto, adquirindo os direitos de uma biografia, escrita pelo próprio Guevara (falarei disso mais adiante), e também fazendo uma pesquisa que durou sete anos (!) para que o filme pudesse ser rodado. “Ele é um produto dos anos 60. Hoje há outros meios que não apelar para o fuzil. Pegar em armas me parece obsoleto. Mas muitas coisas contra as quais ele lutava continuam as mesmas, e não só na América Latina, mas também, em outros lugares do mundo, como a África”, comenta Del Toro.

            Quando se pergunta a qualquer membro do elenco qual é o objetivo do filme, a resposta é uma só: mostrar o ser humano Ernesto Guevara, e não o mito Che. Mas, para quem assistiu ao filme, como eu fiz neste fim de semana, fica a impressão oposta. O enredo salienta a sabedoria, a humildade, o senso de justiça, a lealdade e, mais para o fim, o espírito de liderança do revolucionário portenho. Ou seja, uma visão mítica, exatamente o contrário do que o filme pretendia ressaltar.

            E a razão para isso fica evidente quando aparecem os créditos do filme. O roteiro é baseado em uma biografia escrita por Guevara. Quem, ao defender uma causa revolucionária, acreditando piamente em seus ideais, se colocaria de maneira franca e autocrítica em um relato? Che, obviamente, não aborda em seus escritos o modo cruel com que tratava seus inimigos. Não menciona saques (os que não eram condenados por ele) às vilas pelas quais passava o Movimento Revolucionário 26 de Júlio. Mostra apenas a face honrada de Che Guevara, que punia os injustos, que ensinava soldados a ler e escrever, que os liderava de forma exemplar.

            Se a película não parece de todo realista, ao menos demonstra uma mudança extrema no cinema norte-americano; antes do desastroso governo Bush, uma história que endeusasse um inimigo dos EUA, e que mostrasse como os manda-chuvas do país prejudicaram nações com sua sede de poder, jamais seria bem visto pela opinião pública estadunidense.

            O filme é dividido em duas partes, e a segunda, intitulada Che – a guerrilha, ainda não tem data de estreia definida. Na continuação, veremos um Che tentando repetir o êxito da revolução cubana na Bolívia. Será que teremos uma história mais sincera? É esperar para ver.