terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Não compre o livro pela capa

O novo candidato a queda no governo Dilma é o ministro do desenvolvimento, Fernando Pimentel. O motivo: ele recebeu de maneira indevida uma bela soma, e agora, diz que o dinheiro é fruto de consultorias prestadas no período em que não exerceu a política. Pimentel é também apontado como o coordenador do dossiê contra José Serra, nas eleições de 2010. Mas para isso a tchurma do governo tem uma explicação: o que ele fez seria lobby (lobista era aquela figura que ficava no lobby do Congresso tentando influenciar parlamentares sobre suas ideias), o que é legal. Mas Pimentel recebia seus clientes em seu gabinete. Ora, mas ele não disse que só "prestou consultoria" enquanto estava afastado da política? Pois é. Mais uma vez, o tal do "malfeito" dá as caras.

Sobre essas explicações que não explicam coisa alguma: está se fazendo um alvoroço danado por conta do livro de Amaury Ribeiro Jr., intitulado "A privataria tucana". O livro é, realmente, um sucesso de vendas. Segundo consta, esgotou-se nas livrarias três dias após o lançamento. O texto fala da onda de privatizações realizadas durante o governo de FHC, e já virou livro de cabeceira dos que adoram ter assunto para dizer que Lula salvou o Brasil. Detalhe: na parte final do livro, Amaury denuncia a ação de Pimentel, assessorado por arapongas, para prejudicar o candidato Serra. Isso, a propaganda petista não divulga.

É verdade que erros foram cometidos antes de 2002. Mas também é verdade que não só esses erros continuaram, como outros surgiram após a eleição de Lula. Ora, se o PT era contra a privatização de empresas brasileiras, por que não lutou para reavê-las? E por que não parou de privatizar em seu governo? Os impostos diminuíram? Não, só aumentam a cada dia. A corrupção diminuiu? Pelo contrário. Se antes havia os anões do orçamento, hoje temos o Mensalão, o escândalo da Casa Civil, o escândalo dos Ministérios (difícil lembrar de um que não tenha se metido em falcatruas), e todo dia aparece mais algum podre.

Caso Pimentel seja demitido, será o oitavo ministro a deixar o governo por corrupção. Oito ministros em menos de um ano de governo. E ainda querem que acreditemos que antes era pior.

O PT, durante seu governo, jogou no lixo não apenas a ética, como disse o ex-senador Flávio Arns (que trocou o partido governista pelo PSDB), mas também várias de suas bandeiras, como a oposição às privatizações, à corrupção, às alianças oportunistas (não é mesmo, Collor e Sarney?), e várias outras. Agora que os "malfeitos" do partido e de alliados estão aparecendo, o governo tenta distorcer a verdade, justificar o injustificável e jogar a batata quente nas mãos dos governos anteriores.


                                               Charge: Nani

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

É "impressionanta"!


Segundo a coluna Radar, de Lauro Jardim (revista Veja), a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) analisa um projeto de lei que visa tornar obrigatório o uso da flexão de gênero para nomear profissão e grau de diploma. Caso seja aprovado, termos como "presidenta", "gerenta" e "bacharela" deixarão de ser uma horrenda forçação de barra, sendo elevadas ao status de denominação oficial para funções exercidas por mulheres.

Acho estranha esta proposta da ex-senadora Serys Slhessarenko. Por que Dilma não pode ser chamada de presidente (sendo opcional o "presidenta")? Por acaso, alguém vai se esquecer de que ela é uma mulher, se a chamar de presidente Dilma?

Gostaria de ver como isso se refletiria em uma sala de aula. Já pensou? O professor, para fazer com que os alunos fixem melhor o conteúdo de sua aula, resolve pedir que os meninos leiam um trecho do texto, e as meninas, outro.

"_  ... e agora, só as estudantas!
 _  Ei, quem o senhor está chamando de anta?
 _ Só estou cumprindo a lei, mocinha."




 

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Ao pé da letra



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Estou lendo um livro chamado "Um Ano Bíblico", do jornalista e editor da revista Esquire, A.J. Jacobs, que tornou-se um best-seller. Jacobs resolveu, baseado na experiência de um tio considerado por sua família um homem excêntrico, que viveria um ano exatamente como manda a Bíblia. "Até aí, sem problemas", você pode pensar. "Quantos crentes não fazem o mesmo?" A diferença é que Jacobs - que se declara agnóstico - decidiu não fazer concessões, não ser seletivo ao cumprir os mandamentos bíblicos. Assim, teve que parar de fazer a barba, usar roupas que não contivessem mistura de fibras, levar um banquinho para todos os lugares (para não acabar sentando em um lugar onde uma mulher menstruada houvesse sentado), e até pastorear ovelhas.


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Ainda não estou nem na metade do livro (o autor está no octagésimo dia de sua missão), mas já dá para perceber que as principais dificuldades não estão nessas tarefas mais desconcertantes. Apesar de algumas delas serem hoje consideradas socialmente reprováveis, ou até criminosas (a Bíblia ordena, em alguns de seus versículos, que se sacrifique bois e cordeiros), o que é particularmente difícil de cumprir são as pequenas mudanças de comportamento. Não falar mal dos outros, não fazer imagens, repreender as crianças com uma vara de marmelo - Jacobs tem um filho de dois anos, mais ou menos, e não consegue levantar a mão para ele sem se sentir um tirano -, guardar os sábados (o que significa não fazer absolutamente nada que seja considerado esforço), fazer orações diariamente (imagine o quanto isso é difícil para alguém que não acredita em Deus), entre outras coisas.

Perguntado por seu avô sobre quais regras eram as mais absurdas, Jacobs respondeu que a pior que havia lido até então era um mandamento do Levítico, livro do Antigo Testamento quase inteiramente formado de regras, que dizia que se um homem se metesse numa briga com outro, e sua esposa de intrometesse e, inadvertidamente, tocasse as partes íntimas do outro homem (?), ele deveria cortar-lhe a mão sem demonstrar por ela piedade. Este é apenas um dos muitos pontos (como no caso da mistura de fibras da roupa) em que a Bíblia é estranhamente específica, e não dá qualquer explicação para exigir tais coisas.


Um dos objetivos de Jacobs é mostrar o quanto o legalismo leva ao que ele chama de "idiotice correta", ou seja, que tem gente que se concentra mais em seguir regras do que em fazer as coisas certas. Com o tempo, ele passa a realmente buscar uma elevação moral, mas isso é consequência de sua dedicação. Seu livro acaba mostrando, também, que as pessoas que dizem seguir o livro cristão e vivem com o dedo apontado para a cara dos outros, vomitando julgamentos, seguem apenas o que lhes convêm, dentro da imensa lista de ordens espalhadas pela Bíblia. É um pouco cômodo, não é? Lendo este livro, lembrei dos discursos de líderes cristãos (independente da Igreja que seguem), e vi o quanto eles usam as palavras bíblicas de maneiras diferentes, sempre convenientes ao seu modo de pensar.

É impossivel, para mim, não analisar as incoerências. Exemplo: Paulo, em um de seus livros, diz que os homens devem manter os cabelos sempre curtos. Por quê? Porque sim. Não há explicações. Mas aí, lembro-me da figura clássica de Jesus (é óbvio que se trata da imagem formulada por europeus durante o Renascimento, mas em todo caso, é muito parecida com as formas encontradas no Santo Sudário), na qual ele é retratado com cabelos compridos. E a Bíblia está cheia de regras sem sentido e contraditórias, o que leva a uma conclusão: ela foi escrita por pessoas que viveram em diferentes épocas, e de diferentes comunidades. Na época de Paulo - que viveu depois da morte de Jesus - provavelmente os cabelos compridos fossem coisa de homens afeminados, comportamento reprovado pela Bíblia. Daí a ordem para que se cortasse os cabelos.

[Sobre o homossexualismo, inclusive, vale lembrar que sua primeira menção, condenatória, aparece no episódio da adoração ao bezerro de ouro, quando Moisés está no alto do Monte Sinai para receber os Dez Mandamentos. Em uma passagem, é dito que as pessoas se relacionavam até com outros do mesmo sexo, e isso é mostrado como um absurdo. Já Levítico 18,22 (Versão Nova Internacional), diz: Não se deite com um homem como quem se deita com uma mulher: é repugnante”. Ou seja, é claramente a visão de mundo praticada pelos hebreus na época em que o texto foi escrito. Os autores não aprovavam a união entre pessoas do mesmo sexo, e colocaram isso na Bíblia, pois assim, sua opinião seria inquestionável. Ou alguém realmente acha que Deus, que nos conferiu o livre-arbítrio, perderia Seu tempo com isso?]

Continuarei a escrever sobre "Um Ano Bíblico" nos próximos posts. É um livro muito bem-humorado, que trata de forma original sobre um assunto curioso e interessante.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

26 anos de Calvin e Haroldo

Nenhum filme de ficção científica consegue ser tão criativo quanto a imaginação de uma criança. Partindo desta premissa, Bill Watterson criou, em 1985, as tirinhas de um garoto de 6 anos que tem como melhor amigo um tigre de pelúcia, que "ganha vida" quando não há adultos por perto. 

Calvin, o menino, e Haroldo, o tigre, conversam muito sobre vários temas, que vão da política ao dever de casa, com a mesma seriedade. O grande trunfo de Watterson foi colocar nas tirinhas ideias que parecem mesmo ter saído da cabeça de uma criança.


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Originalmente, a tira chama-se "Calvin and Hobbes", sendo o primeiro uma homenagem ao fundador do Calvinismo, e o segundo, a Thomas Hobbes, filósofo inglês que formulou a máxima "O homem é lobo do próprio homem". Ou seja, desde sua gênese, a criação do ex-publicitário destinava-se a explorar conceitos mais complexos que o cotidiano infantil.

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Para marcar o aniversário de 26 anos de Calvin & Haroldo, a editora Conrad lança o livro "Os dias estão todos ocupados", que já havia sido publicado anteriormente pela Best News sob o título "Os dias estão simplesmente lotados".





terça-feira, 8 de novembro de 2011

Os fascistinhas idiotas

Não sou contra reivindicações estudantis. Quando estava na faculdade, cursando jornalismo, eu inclusive fiz parte de um grupo de alunos que produziu um jornalzinho, intitulado "A Pedrada", cujo objetivo era colocar em evidência os pontos fracos da instituição (e, verdade seja dita, extravasar nosso desejo de publicar alguma coisa). Reclamávamos da demora absurda no atendimento da secretaria, da falta de investimentos em informática, entre outros assuntos. Alguns de nossos textos surtiram efeito, outros não. Mas a questão é que não foi preciso fazer nada além de escrever e conversar.

A introdução serve apenas de parâmetro para uma análise do episódio ocorrido na USP, quando um bando de estudantes invadiu o campus da universidade e, encapuzados, maltrataram funcionários e qualquer um que não compactuasse com a baderna. Os manifestantes alegam estar lutando por seus direitos (consta que um trio foi visto fumando maconha dentro de um carro no estacionamento, foi repreendido, houve tumulto, a polícia militar foi acionada, e começou a confusão), mas direito a quê? A fazer o que quiserem, sem medir consequências? Ninguém, seja estudante ou não, tem este direito.


Durante os protestos, muitos estudantes exibiram livros de Marx, Gramsci e outros autores muito respeitados da sociologia - mais pelos simpatizantes da 'esquerda' que da 'direita'* - como se fossem escudos contra a "repressão fascista" da polícia. Sim, usaram esta terminologia errada e clichê. Aposto os dedos destas mãos como só um ou outro ali no meio leu aqueles livros. Afinal, isso dá tanto trabalho quanto estudar, e eles não estão na USP, a maior instituição de ensino superior do país, para estudar. Querem apenas fumar maconha em paz, deitados na grama, usando seus i-phones ganhos no Dia da Criança e fingindo que discutem questões filosóficas profundas. (E que fique claro: respondem por míseros 0,1% do número de alunos da universidade).


Depois de um enfrentamento bem covarde com a polícia, no qual os invasores agrediam policiais com cavaletes, pedaços de madeira e o que houvesse à disposição (material da USP, pago por impostos, assim como o prédio da instituição, que é pública), enquanto a PM só se defendia, 73 alunos foram presos nesta terça por desobediência, dano ao patrimônio público e crime ambiental. Só sairão sob fiança, estipulada em torno de mil reais.



                               Reparem em como escreveram "trabalhadores". Precisam
                                         estudar mais, e protestar menos...

Talvez a influência da politicagem na sala de aula tenha mexido com os miolos dessa gente tanto quanto as toxinas da maconha. Não é raro ver um professor incitar alunos a ir contra o "sistema", exaltar partidos ditos "de esquerda"*, colocar nas entrelinhas de seu discurso críticas a este ou aquele veículo de comunicação (os eternos vilões, para os que desprezam a liberdade de expressão). Pois é, eis aí um exemplo de resultado: jovens idiotas, que pensam que conseguirão o que quiserem invadindo, depredando e distribuindo ordens. Coisa de fascista.


* Não acredito na divisão "esquerda/direita", mas fica mais fácil para explicar. Hoje, o que temos são partidos guiados por interesses de grupos opostos. A ideologia passa longe da política.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Limpando a casa (ou "Contra fatos...")


                                                         Foto: Valter Campanato/ABr

A pauta do setor de política de dez em cada dez jornais brasileiros hoje trata da quase certa demissão do ministro dos esportes, Orlando Silva, por conta da "pressão" das acusações de corrupção feitas contra ele. A frase do ministro, da coletiva concedida logo após a divulgação da reportagem da revista Veja, soa muito bem: "Um bandido me acusa, e eu que preciso me explicar". Sim, é bonita a sentença. Parece coisa de pessoa muito honesta, vítima de uma armação difamatória. Pena que as provas apresentadas pelo policial militar João Dias (preso no ano passado por participar do esquema de desvio de verbas do programa Segundo Tempo) sejam tão contundentes, não é, ministro?

Tem gente (os mesmos de sempre, que acusam a revista de conspirar contra tudo o que há de bom no universo) que já chama a Veja de "caluniadora", "mentirosa", o escambau. Eles simplesmente ignoram as provas em que se baseia a reportagem! Mas isso já é sintomático, no governo petista: quem está no poder nunca precisa provar nada, já reparou? Só os outros têm esta obrigação. E, mesmo quando o fazem, são desacreditados pela mídia militante, que mais parece um amontoado de assessores de imprensa do governo, e não jornalistas.

Com Orlando Silva, já são seis ministros demitidos desde o início do governo Dilma, que ainda não completou um ano. Ou seja, mais da metade dos nomeados pela presidente para chefiar as principais pastas do governo (dez, ao todo). Se a "imprensa golpista" é a única culpada por esta verdadeira limpeza ética, das duas uma: ou ela é muito eficiente - e então, merece aplausos -, ou Dilma é muito fraca, pois não consegue fazer valer suas convicções diante das "mentiras" publicadas. Fico com a primeira opção.

O que acontece, na verdade, é que os corruptos estão sendo desmascarados um a um, e não têm o que apresentar em sua defesa. Bom para o Brasil, que aos poucos se livra de um bando de sanguessugas do dinheiro público.

  

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Sem apelação

                                         Valter Campanato/ABr

O caso Orlando Silva (sobre o suposto recebimento de propina pelo ministro dos esportes) está se tornando mais um assunto a embasar a teoria da conspiração racial no Brasil. Já tem gente atribuindo à cor da pele do ministro o motivo da acusação feita pelo policial militar e ex-militante do PCdoB, João Dias Ferreira. Não sou racista, e defendo o tratamento igualitário às pessoas, independente de origem, credo ou o que quer que seja. E este "igualitário" engloba a exigência do respeito às leis, e em caso de cometimento de ilícito, a aplicação de sansões ao autor.

Para bem analisar a questão, basta dizer que os outros cinco ministros demitidos por Dilma são brancos. Esta simples e lógica observação faz desmoronar o argumento apelativo de quem acusa de racismo os denunciantes.

O problema não é a cor da pele do ministro Orlando Silva, mas sua conduta, incompatível com suas atribuições.

sábado, 15 de outubro de 2011

CUIDADO: Com esta gente não se brinca!


                                            Foto: divulgação

Nesta semana, fomos informados da demissão do humorista Rafinha Bastos pela Band, por conta da piada que fez com a "cantora" Wanessa. O pedido partiu do próprio humorista, que não concorda com a censura imposta pela emissora, após a decisão de afastá-lo por tempo indeterminado. E quer saber? Rafinha está certo. Por mais pesada que sua fala possa parecer, a punição não se deve a isso; a razão que levou a Band a cortá-lo de sua programação é que o marido de Wanessa, Marcus Buaiz, é um "empresário" influente (leia-se filho de empresário influente, o dono da Rede Vitória, Américo Buaiz Filho).

E a Rede Vitória é o quê, mesmo? Ah, sim. É afiliada da Rede Record no Espírito Santo. Como se não bastasse a influência (leia-se conta bancária) dos Buaiz, pesam também as companhias de Marcus, como o ex-jogador Ronaldo e o ex-colega de CQC de Rafinha, Marco Luque. O Fenômeno, que é sócio de Buaiz, disse que tiraria anunciantes do programa. Luque (cujo programa solo, "O Formigueiro", foi um fracasso de audiência), publicou até uma nota de repúdio à atitude de Rafinha, dizendo-se ofendido "enquanto pai". (Obs.: Rafinha Bastos também é pai.)

Percebe, amigo leitor? O problema não foi exatamente a piada, mas o alvo da mesma. Se Rafinha tivesse feito a mesma brincadeira com pessoas sem muita influência, isso ficaria apenas entre o humorista e os personagens da galhofa. Como é gente com amigos poderosos, especialmente seus papais, a coisa muda de figura. Não parece coisa de regime ditatorial africano?


Ainda bem que a produtora do CQC, a argentina Cuatro Cabezas, não concorda com a postura da Band, e ameaça até tirar o programa da emissora. Atitude coerente com o que o Custe o Que Custar representa, seja no Brasil ou na terra de Gardel: o humor escrachado como instrumento de crítica (ou só como humor mesmo).

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Ponto para o bom senso



Você leu aqui que a ministra da Secretaria das Mulheres, Iriny Lopes, enviou uma representação ao Conar contra a campanha publicitária da Giovanni+Draftfcb para a Hope, na qual a modelo Gisele Bündchen aparece de calcinha e sutiã, sugerindo que a mulher brasileira pode usar sua sensualidade para conseguir o que deseja dos homens.

Pois hoje, o órgão que autoregula a publicidade no país arquivou a representação, sob a alegação de que "os estereótipos presentes na campanha são comuns à sociedade e facilmente identificados por ela, não desmerecendo a condição feminina".

Parabéns ao Conar, que demonstra bom senso ao decidir sobre algo tão absurdo. Como eu já disse antes, acho que a indignação da ministra e dos cerca de 40 consumidores que denunciaram a propaganda não se deve à "afronta à dignidade da mulher", mas à boa e velha dor de cotovelo. Afinal, algum deles reclamou quando a mesma Gisele apareceu de avental, na propaganda da Sky, enquanto o maridão assiste à televisão? Não, né?

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

"Espelho, espelho meu..."

        A ministra Iriny Lopes, chefe da Secretaria da Mulher no governo Dilma, formulou um representação contra a propaganda da empresa de lingeries Hope, na qual Gisele Bündchen aparece de calcinha e sutiã para, nas palavras da ministra,  "amenizar possíveis reações de seus companheiros frente a incidentes do cotidiano". Ou seja, a campanha apenas coloca em imagens aquilo com que homens e mulheres brincam em conversas com amigos: o fato de uma mulher conseguir tudo o que deseja por meio de sua sensualidade.
       Ainda segundo Iriny, a peça publicitária “promove o reforço do estereótipo equivocado da mulher como mero objeto sexual de seu marido e ignora os grandes avanços que temos alcançado para descontruir práticas e pensamentos sexistas" (sic). Me desculpe a ministra, mas acho que o Brasil já evoluiu bastante em termos de relações sociais para se deixar levar por uma simples propaganda de lingerie, cujo objetivo evidente é valorizar sua marca. Ou será que uma empresa que produz peças de roupa íntima femininas teria por meta inferiorizar justamente seu público consumidor, as mulheres?
        A sensação que me passa este tipo de reação é a de que a ministra está querendo aparecer. O assunto não é tão sério para que tome o tempo do pessoal do Conar (Conselho Nacional de Autoregulação Publicitária), órgão que irá julgar o caso, com base na representação de Iriny Lopes.
        Até a atriz e pop star Luana Piovani atacou o comercial, via Twitter, alegando a ofensa à dignidade da mulher. Ora, que curioso; para mim, a propaganda da Hope "ofende" tanto quanto a personagem de Luana no filme e série "A Mulher Invisível", nos quais interpreta a imaginária Amanda, um delírio que anda sempre em trajes mínimos, criado pela mente de Pedro (Selton Mello). Ela, sim, serve apenas aos propósitos masculinos mais primitivos, por assim dizer. Se Luana é contra a propaganda da Hope, por que aceitou o papel de Amanda? Novamente, parece oportunismo. Ela precisa ter uma opinião sobre tudo, certo? Senão, correria o risco de a esquecermos, e isso ela não suportaria.
         Para sua apreciação, seguem o comercial da Hope e também uma foto da ministra Iriny Lopes, que evidencia, a meu ver, o real motivo de sua indignação.





                                                          
Fonte: Correio do Estado - http://www.correiodoestado.com.br/noticias/conar-julgara-o-caso-gisele-bundchen-nesta-quinta_127833/

A peça publicitária "Hope ensina" foi desenvolvida pela agência Giovanni+Draftfcb.             

sábado, 8 de outubro de 2011

Che, por Ernesto Guevara

          Olá! Seja bem vindo a meu novo blog, onde tratarei de qualquer coisa que me venha à mente: política, religião, cultura e até inutilidades. Para início de conversa, aproveitando o aniversário da morte de Che Guevara, segue um texto que escrevi em 2009, quando do lançamento do filme sobre o revolucionário.

                       


            O ator Rodrigo Santoro, que interpreta o atual presidente cubano Raúl Castro no filme Che, o argentino, de Steven Soderbergh, tem acompanhado a performance do longa ao redor do mundo, e se diz satisfeito com o resultado. O brasileiro diz que, assim que conseguiu o papel (após muita insistência durante os testes de elenco), estudou espanhol por cerca de um mês, e em seguida, foi a Cuba, onde passou mais um mês conhecendo a ilha, a cultura, as pessoas que conheceram o revolucionário Ernesto Guevara.

            O porto-riquenho Benicio Del Toro, que interpreta com propriedade o papel-título, é um dos idealizadores do projeto, adquirindo os direitos de uma biografia, escrita pelo próprio Guevara (falarei disso mais adiante), e também fazendo uma pesquisa que durou sete anos (!) para que o filme pudesse ser rodado. “Ele é um produto dos anos 60. Hoje há outros meios que não apelar para o fuzil. Pegar em armas me parece obsoleto. Mas muitas coisas contra as quais ele lutava continuam as mesmas, e não só na América Latina, mas também, em outros lugares do mundo, como a África”, comenta Del Toro.

            Quando se pergunta a qualquer membro do elenco qual é o objetivo do filme, a resposta é uma só: mostrar o ser humano Ernesto Guevara, e não o mito Che. Mas, para quem assistiu ao filme, como eu fiz neste fim de semana, fica a impressão oposta. O enredo salienta a sabedoria, a humildade, o senso de justiça, a lealdade e, mais para o fim, o espírito de liderança do revolucionário portenho. Ou seja, uma visão mítica, exatamente o contrário do que o filme pretendia ressaltar.

            E a razão para isso fica evidente quando aparecem os créditos do filme. O roteiro é baseado em uma biografia escrita por Guevara. Quem, ao defender uma causa revolucionária, acreditando piamente em seus ideais, se colocaria de maneira franca e autocrítica em um relato? Che, obviamente, não aborda em seus escritos o modo cruel com que tratava seus inimigos. Não menciona saques (os que não eram condenados por ele) às vilas pelas quais passava o Movimento Revolucionário 26 de Júlio. Mostra apenas a face honrada de Che Guevara, que punia os injustos, que ensinava soldados a ler e escrever, que os liderava de forma exemplar.

            Se a película não parece de todo realista, ao menos demonstra uma mudança extrema no cinema norte-americano; antes do desastroso governo Bush, uma história que endeusasse um inimigo dos EUA, e que mostrasse como os manda-chuvas do país prejudicaram nações com sua sede de poder, jamais seria bem visto pela opinião pública estadunidense.

            O filme é dividido em duas partes, e a segunda, intitulada Che – a guerrilha, ainda não tem data de estreia definida. Na continuação, veremos um Che tentando repetir o êxito da revolução cubana na Bolívia. Será que teremos uma história mais sincera? É esperar para ver.